terça-feira, 8 de novembro de 2016

Festival internacional exibe o documentário “O Complexo” sobre os impactos ambientais das usinas hidrelétricas do Rio Teles Pires

Daniel Schlidwein, assentado da Gleba Mercedes em Mato Grosso, será desalojado quando a barragem da Hidrelétrica Sinop alagar a terra onde vive. Aos olhos do agricultor, o destino se repete após mais de 30 anos, quando o seu pai também foi desabrigado por causa da Usina de Itaipu e a indenização não foi suficiente para comprar uma nova propriedade em área vizinha. O documentário “O Complexo” narra os vícios dos projetos hidrelétricos no Brasil e dá voz para os impactados pelos empreendimentos do Rio Teles Pires: agricultores, pescadores, ribeirinhos e indígenas. A exibição do filme acontece durante o Festival Internacional de Cinema Socioambiental Planeta.Doc em Florianópolis, Santa Catarina.


O rio Teles Pires está localizado na bacia do Alto Tapajós, região de encontro entre o Cerrado e a Amazônia. O complexo prevê quatro grandes usinas hidrelétricas e uma série de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). A planta energética do rio Teles Pires custou 3,3 bilhões de reais – 80% financiados com os recursos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O “baixíssimo impacto ambiental” alegado pelo presidente da empresa consorciada Neoenergia, Marcelo Correa, não condiz com a análise dos efeitos gerados pelo conjunto das hidrelétricas. Recorrentemente os estudos de impacto ambiental são falhos, pois consideram o local da obra isolado, sem verificar as influências e rupturas no ecossistema de toda a região da bacia do rio.



Os estudos de viabilidade técnica, contratados pela Empresa Brasileira de Energia (EPE), são realizados por meio da prestação de consultoria pelas empresas que costumam posteriormente integrar os consórcios de construção das hidrelétricas. A mitigação dos impactos socioambientais é compreendida como investimento e acarretas custos para as corporações. Portanto, as manobras para reduzir esta rubrica significam o aumento do retorno financeiro e resultam na ausência de indenização para grupos que originalmente não foram considerados impactados. Este é o caso do Assentamento 12 de outubro em Sinop-MT, cujos moradores se mobilizaram para serem reconhecidos no estudo e relatório de impacto ambiental (EIA-RIMA).



Outra distorção decorrente deste cenário se refere às transações no mercado de carbono. Uma vez que a hidrelétrica é considerada uma forma de energia limpa e a perspectiva anunciada era de baixas emissões, os créditos de carbono foram concedidos ao empreendimento. Porém, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Philip Fearnside questiona a decisão. "Essas barragens têm, sim, emissões substanciais de gases, principalmente o metano e também, pelas árvores mortas, o gás carbônico", explica.



Estas são algumas das contradições das obras das hidrelétricas no Brasil, apresentadas no documentário “O Complexo”. O cenário do filme é o Rio Teles Pires e os atores são as populações impactadas. A iniciativa é uma parceria entre a produtora Forest Comunicação, o Fórum Teles Pires e o Instituto Centro de Vida (ICV). O trailer do filme pode ser acessado em: https://youtu.be/1r53-axzV10. O média-metragem serve como ferramenta de mobilização e é exibido também em pequenas sessões para representantes da sociedade civil, especialistas e gestores públicos.

Fonte: Forest Comunicação









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