terça-feira, 20 de setembro de 2016

Campeonato Brasiliense de Poker receberá portador de ELA - Esclerose Lateral Amiotrófica

O defensor público aposentado João Paulo de Souza Trindade participará da grande final do torneio, amanhã, 21. O jogador acumula vitórias no esporte e garante que não sairá de lá sem uma premiação



É fato que as Olímpiadas e as Paralímpiadas Rio 2016 deixaram um legado histórico para o Brasil. O quesito superação foi a marca dos jogos, tanto no que se refere à atuação dos atletas, quanto à capacidade do País de ir além da previsão pessimista que tomou conta dos movimentos pré-eventos.

Ainda no clima das Paralímpiadas, o esporte mostra que sempre é possível superar as mais diversas barreiras. Ainda fora das modalidades dos Jogos Olímpicos, o pôquer também é sinônimo de inclusão. Prova disso é a do defensor público aposentado João Paulo de Souza Trindade: aos 40 anos e portador da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), o brasiliense acumula muitas vitórias no esporte.

Trindade começou a sentir os sintomas da doença em 2006, um ano antes do casamento com a maquiadora profissional e veterinária Yara Prado (com quem está há 20 anos) e do ingresso no serviço público. Hoje, dez anos após o diagnóstico, João Paulo vive com a esposa e os dois filhos (João Lucas, 5 anos, e Jeovanna, 3 anos) em Vicente Pires e fez do pôquer a sua nova profissão.
“O que era um hobby virou a nova profissão do João Paulo. Ele sempre foi muito dedicado e, com o pôquer, não é diferente. São horas dedicadas ao estudo, leitura e jogos, claro. Ele investe em cursos, coach e workshop e considera o esporte uma verdadeira ferramenta de inclusão”, comenta Yara Prado.
Após o coach, ele revolveu ser campeão de um torneio grande. 
“Não foi como eu gostaria, mas foi ótimo! Fui o segundo colocado de 1.214 participantes. Investi $ 5,10 e ganhei $ 760! Não tem preço fazer isso jogando com os olhos”, relembra o amante do esporte. 
Segundo a esposa, a capacidade de raciocínio e cognição não é afetada pela doença.
“Esta realidade permite ao João Paulo disputar os torneios online sem que os outros jogadores tenham a mínima ideia de que, do outro lado da tela, tenha um portador da ELA. Ele é o melhor, o mais preparado e dedicado”, orgulha-se. 
Para jogar, Trindade usa um software chamado Tobii Communicator, que lê os movimentos de sua retina. “Por meio do programa, ele pode produzir falas, enviar mensagens ou e-mails, controlar outros programas do computador e, principalmente, jogar”, explica a esposa.
“Nós, portadores da ELA, temos que ter objetivos. Desde que me aposentei e fiquei acamado, procuro manter minha mente ocupada para fugir do ócio e até de uma depressão. O pôquer me proporciona isso, pois o esporte exige conhecimentos de psicologia, raciocínio lógico e muita matemática”, sintetiza o jogador. 
Inclusão - Amanhã, 21, às 19h30, durante a grande final do Campeonato Brasiliense de Poker, no Mané Garrincha, a tecnologia permitirá ao jogador vivenciar a experiência de participar de um torneio presencialmente. Sempre atenta às necessidades do esposo, Yara Prado fez uma visita técnica ao Estádio Mané Garrincha e cuidou de todos os detalhes da participação de João Paulo.
“Ele está muito otimista e ansioso em relação ao evento. Conversei com a médica e recebemos a autorização da saída dele. Aluguei a ambulância e agendei o serviço do home care, além de ter ido pessoalmente ao estádio para verificar as condições de acessibilidade. Está tudo pronto e temos certeza de que ele sairá de lá com um bom prêmio”, acredita Yara. 

Rogers Garcia, vice-presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold'em (CBTH) e presidente da Federação Brasiliense de Poker (FBP), realizadoras do evento, a participação de João Paulo é inestimável, pois comprova um dos eixos mais belos do esporte: seu caráter democrático.

“Quantos esportes você imagina que jovens, idosos, magros, obesos, homens ou mulheres podem competir em igualdade de condições? Pouquíssimos. O pôquer possibilita isso, pois permite que mesmo alguém com uma doença tão limitante fisicamente, como  é o caso do João Paulo Trindade, possa competir com total chance contra os demais jogadores”, enfatiza. 
Garcia reforça a definição de que o pôquer é um esporte mental, cujos “vencedores serão os que conseguirem tomar as melhores decisões e realizarem as melhores considerações matemáticas e psicológicas de seus adversários ao longo das diversas mãos jogadas”, finaliza. 


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